quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Devia ser todos os dias...

Mas não é. Por isso - concentrado naquele que efectivamente existe - desejo que este Natal seja para todos os que por aqui passaram, um dia particularmente mais feliz que os anteriores e muito semelhante aos que virão.

Agradeço a 5 pelo postal original e motivador que me enviaram. Em troca, acedo como é óbvio, ao pedido de voltar a publicar aquilo que eles consideram ser a minha única história de Natal.




A Árvore


O Aviso foi lançado em milhares de papelinhos brancos, espalhados por um vento de Dezembro que cumpria a função de uma brisa primaveril. Sobre os casacos e sobretudos nevou o desafio: 


“A maior árvore de Natal do mundo será construída. Decorem-na com dependências, sonhos e frustrações”.


No primeiro dia, a decoração era tão feia quanto óbvia – centenas de maços de tabaco, seringas e caixas de anti depressivos compunham os ramos superiores da árvore. Mas reconheço que a combinação tinha o seu encanto.
Ao terceiro dia, 24 pintores juntaram-se e entregaram os seus pincéis e paletas de cores. A árvore ganhou vida. Exprimia-se por cores, chorava e ria. Os que passavam por ela paravam e questionavam: “O que será que quer dizer?”
Uns dias depois, foi a vez de alguns poetas rasgarem as folhas dos seus cadernos para taparem os ramos despidos da árvore. A árvore começou a falar. Muitos correram para assistir a tal fenómeno, mas a visita durava pouco tempo, perante o som ensurdecedor de tantas palavras. Os que fugiam dela, com as mãos nos ouvidos, gritavam: “Ouvi a árvore falar muitas coisas, mas o que será que ela queria dizer?”
Nos dias que se seguiram, a peregrinação de decoradores foi contínua e os ramos encheram-se. As dependências abanavam ao vento e assobiavam cantos de sereia. Os sonhos acendiam-se e apagavam-se numa intermitência tão acelerada, que quem os via, questionava se os tinha visto mesmo iluminados. As frustrações assumiram a forma de cartas dirigidas a um homem de barbas brancas e vestes vermelhas – inventado por um refrigerante. 
Na semana em que todos os comerciantes sorriem, a árvore estava tão cheia que quase tombava. Milhares de pessoas viviam à sua volta, olhando para ela quase sem se mexerem. No entanto, o olhar contemplativo que a imponência da obra deveria provocar, foi substituído por um outro, vazio e desesperado...
No dia 23, uma leve brisa transformada em vento de Inverno, chocou contra a árvore e um maço de tabaco caiu ao chão. Um homem de trinta anos com aspecto de cinquenta, começou a tremer no meio da multidão e numa convulsão contínua, correu para a árvore. Abriu o maço e a tremer, acendeu um cigarro. Os outros viram o fumo branco (tão poderoso em Roma) e correram para a árvore como se fugissem de um incêndio. Em segundos, criou-se um cenário ainda mais deprimente do que as filas de caixa dos centros comerciais, nascidas na mesma altura... Velhinhas atropeladas, crianças a chorar, mães à procura dos filhos, pais esquecidos de que tinham filhos... Arrancavam decorações da árvore com a força que utilizariam para desmembrar alguém. Amealhavam dependências estranhas, coleccionavam frustrações alheias e pisavam sonhos que outros haviam sonhado.
Apesar do caos, todos abandonaram o lugar com um olhar brilhante e feliz. Muitos ainda falaram em usar a árvore para lenha, mas já não havia tempo, as lojas estavam prestes a fechar.
Às onze horas do dia 24 de Dezembro a árvore estava depenada. Nem uma “pinha” de frustrações; nem um emaranhado de dependências; nem uma fiada de sonhos intermitentes piscava... 

Porém, a estrela permaneceu. Ninguém a retirou. A maioria acredita que foi por estar alta de mais, mas alguns questionam se quem lá a pôs, precisava realmente dela.

Filipe Lascasas

Para ouvir com: "Go Do" - Jónsi

domingo, 19 de dezembro de 2010

O Segredo


...e no postal do 56º aniversário vou escrever-lhes:

"Amor intemporal" é uma espécie de indiferença aos defeitos que carregas... E um pequeno palco -  montado pelos que te amam - onde apenas dançam  as virtudes que te tornam único.   

Saibas escutar, sorrir e agradecer as palmas.

Filipe Lascasas

domingo, 12 de dezembro de 2010

31 dias... anjos e demónios


Não acreditas em anjos. 
Existem  muitas coisas em que não acreditas por falta de procura, por falta de viagens. 
Se não acreditas em ti, poderás até viajar mas nada encontrarás. A não ser, talvez, anjos e demónios.

Fui visitar alguns e (talvez por se aproximar o natal) acederam contar-me histórias - recordações suas. 
Tirei uma foto a um. Não procurava baleias mas sim golfinhos. Ao contrário de mim, sabia o que procurava.

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