quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Possível





Fizemos o que muitos proclamavam...

Impossível.

Precisava atravessar a sala de lasers uma vez mais, para ser bem sucedido. No entanto, como a vida é feita de surpresas, o alarme tocou. Apertei as alianças com força e atirei-me pela porta antes da grade fechar.
Já se ouviam sirenes quando vi a luz da alvorada. Entreguei as joias ao Pratas e disse-lhe:
- Corre!
- Não te preocupes... Vai vestir-te que estás atrasado. 
O Pratas não correu; como um bom engenheiro, escolheu as rotas mais curtas para o destino. A Sandra, a Raquel, a Jessy e a Gabi arrancaram mal ele chegou mas ainda tiveram tempo para dar beijinhos e dizer “olá”. Na auto-estrada, puseram-se lado a lado com a ambulância e atiraram as joias pela janela.
A ambulância parou numa fila interminável. Ligou as sirenes, avançou pela berma e parou junto à policia...
- Não temos nenhum paciente connosco mas esperam-nos com urgência no hospital –disseram em uníssono, a Claudia e o Félix. 
- Encerrámos todas as vias, roubaram as alianças do museu – aquelas, sabem... Com que se casaram os princípes de Inglaterra!
Levantaram a barreira e eles arrancaram.
Um quilómetro antes de chegarem ao hospital, o André abriu as portas, saltou em andamento de bicicleta e desceu pelos montes, até à marginal. Curosamente, ninguém comentou o facto de um estranho pedalar numa corrida com algumas lendas do cilismo. Pelo menos até ao ponto em que chegou à frente do pelotão e ultrapassou o Lance Armstrong... (Ainda pensou em parar para lhe pedir um autógrafo mas estava muito atrasado.) Ao quilómetro 32 entregou as alianças  ao Bruno e ao João e eles, por sua vez, apanharam aleatóriamente 3 boleias de estranhos que afinal, eram amigos do Nelinho. A Paula escondeu as alianças no fato de banho e lançou-se ao mar, 13 segundos depois da prova ter começado. O mar encrespou-se inesperadamente e entre braçadas, ela viu o Michael Phelps atrapalhar-se. Habituada que está, a nadar em águas tumultuosas, nadou até ele e levantou-lhe o queixo...
A Mafalda fez-me o nó da gravata e a Belinha  fez o resto, enquanto o BT me forçava a beber “à golada” uma mini – para me acalmar... A cerímónia já tinha começado e eu não estava lá.

Um silêncio terrível invadiu a igreja quando a ausência das alianças se juntou à do padrinho.
O silêncio não durou muito tempo, apenas o suficiente para vos dizer isto:

Há um Limite para todas as coisas que podes fazer por um amigo. É possível desafiar o Limite, vencendo todos os dias coisas que apenas “custam muito” ou são só “muito difíceis”; no entanto, infelizmente, nunca te será permitido ultrapassá-lo... Simplesmente porque a palavra “impossível” mora em casa de um optimista. É ela que o acorda quando ele voa em sonhos e o detém, quando acordado, sonha em voar. 

A porta da igreja abriu-se e o padrinho, ofegante, entregou as alianças a um principe e a uma princesa.

Na realidade, acabamos por lhes oferecer apenas uma máquina de café e dinheiro num envelope. Nunca tive ou terei dinheiro para oferecer alianças de noivado feitas para principes, a Paula nunca irá salvar o Michael Phelps na água, o André nunca será capaz de deixar para trás o Lance Armstrong (pelo menos sem lhe pedir um autógrafo)...

Nos anos que se seguiram, montámos juntos o berço do herdeiro (comprado no Ikea), após um jantar muito semelhante àquele em que a noite acabou a levarmos a princesa ao hospital para dar à luz (um parto que ainda hoje juro ter sido induzido por gargalhadas). Um jantar semelhante àquele que teriámos feito, não tivesse o forno gelado e um abraço colectivo tentado abafar (sem sucesso) a notícia da morte do pai de um de nós.
Vencemos quilómetros, agendas, empregos, cansaços, preguiças e esquecimentos para estar juntos.
Fizemos (na realidade) o que muitos proclamam...

Impossível.


Filipe Lascasas

(É óbvio a quem dedico esta história) 

4 comentários:

  1. Obrigada príncipe.
    Obrigada por tudo!
    PS

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  2. Bom...afinal isto é de família...Apenas com uma diferença...não me atrevo a publicar os meus poemas...
    Belo!!! Força...continua...ganhaste mais uma leitora.

    Beijinhos

    Carla Las Casas

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  3. :) Mais uma bela história!! JD

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  4. Espectacular!

    Obrigada por tudo tudo tudo!
    Mas principalmemte obrigada por nos deixares fazer parte da tua família de amigos!
    E sim, foi induzido por gargalhadas felizes! E por um bom stromboli ;)

    *Fi

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